quarta-feira, 6 de maio de 2015

Gerrard diz adeus ao Liverpool como jogador para continuar como lenda

Craque, líder e provavelmente o maior jogador da história do Liverpool. Esse é o tamanho de Steven George Gerrard no Liverpool. É o jogador que mais representa o que é jogar em Anfield Road, um dos templos do futebol, o que é representar uma massa adepta que canta, apoia e emociona com a sua “You’ll Never Walk Alone” entoada a cada jogo no estádio. Gerrard anunciou que sua trajetória no Liverpool se encerra ao final da temporada. Ele não irá se aposentar, mas irá jogar nalgum lugar que não tenha que ter o Liverpool como adversário. Algo que era difícil imaginar no começo da temporada, quando a equipa vinha de quase ganhar o título inglês tendo Gerrard como um dos seus pilares. Mas algo mudou e que levou o capitão a escolher não ficar.
“Foi uma das decisões mais difíceis da minha vida e que tanto eu quanto minha família têm agonizando há um bom tempo”, disse o camisola 8. “Eu estou fazendo o anúncio agora para que o técnico e a equipa não sejam distraídos por histórias ou especulações sobre o meu futuro”, afirmou o capitão. “O Liverpool Football Club tem sido uma parte tão grande de todas nossas vidas por tanto tempo e dizer adeus é difícil, mas eu sinto que é algo que é do melhor interesse de todos os envolvidos, incluindo minha família e o clube”, explicou Gerrard. Sim, até no anúncio, ele pensa no clube.
As especulações giram em torno de uma transferência para a MLS, que há tempos se interessa pelo capitão do Liverpool. “Eu continuarei jogando e embora eu não possa confirmar neste momento onde será, eu posso dizer que será nalgum lugar que signifique que eu não estarei jogando em um clube que compita e não jogará contra o Liverpool, algo que eu nunca poderia contemplar”, revelou o jogador.
“Minha decisão é completamente baseada no meu desejo de experimentar algo diferente na minha carreira e vida e eu quero também garantir que eu não tenha arrependimentos quando a minha carreira acabar”, declarou o jogador, que isentou Brendan Rodgers, elogiando-o, assim como toda a direção do Liverpool. “Eu não posso agradecer o bastante a Brendan, os proprietários e todos no clube por como eles lidaram com isso e estou saindo em ótimos termos. Além disso, eu agradeço aos meus companheiros e a toda a equipa técnica pela ajuda e apoio contínuo”, agradeceu Gerrard.
“É um lugar especial de se fazer parte. É minha sincera esperança e desejo que um dia eu possa retornar e servir ao Liverpool novamente, em qualquer capacidade que melhor ajude o clube”.
“Um ponto que é importante ressaltar é que de agora até ao último chute do último jogo da temporada, eu estarei completamente comprometido com a equipa como eu sempre estive e dando o meu melhor para ajudar o Liverpool a vencer jogos”.
“Minha mensagem final às pessoas que fazem o Liverpool Football Club o maior do mundo, os adeptos. Foi um privilégio representar vocês, como jogador e como capitão. Eu tenho desfrutado cada segundo dele e é meu sincero desejo terminar esta temporada e minha carreira em alta”.
Para alguém que tem a Champions League de 2004/05 no currículo como protagonista, além dos títulos da Taça da Inglaterra em 2000/01, 2005/06, Taça da Liga em 2000/01, 2002/03 e 2011/12 e a Taça Uefa em 2000/01, nem era preciso agradecer. Faltou uma Premier League na lista de títulos, algo que ele e a massa associativa queriam muito, mas não aconteceu. Mesmo assim, ele é um exemplo de profissional, um jogador que liderou a equipa, dentro de fora de campo, e se tornou um exemplo vivo, um legítimo representante da massa adepta. Aos oito anos, viu o seu primo morrer na tragédia de Hillsborough. Alguém que tem o nome confundido com o clube, tamanha a identificação.
A temporada difícil e o tempo no banco
Ficar no banco pode não ser um problema para Gerrard em alguns jogos. Aos 34 anos, a ideia era poupá-lo de uma temporada desgastante, com o Liverpool de volta à Champions League. Só que o que se viu, desde o começo da temporada, é algo além disso. Brendan Rodgers passou a ser pressionado para tirar o capitão da equipa. Alguns adeptos passaram a questionar a titularidade do capitão. A ideia de se aposentar da seleção inglesa após o Mundial para estender a sua vida no Liverpool acabou não sendo suficiente.
Gerrard não é o responsável pela equipa do Liverpool não funcionar tão bem nesta temporada quanto na passada. Foi Gerrard que escorregou na temporada passada no jogo crucial contra o Chelsea, que praticamente jogou fora o título inglês. É verdade. Mas ele foi o líder de assistências na temporada inglesa. Foi fundamental para a equipa chegar onde chegou. Só perdeu em importância para Luis Suárez, o craque da equipa.
Mesmo assim, a sua saída da equipa foi especulada várias vezes. Depois do empate contra o Leicester City, na quinta-feira de ano novo, alguns adeptos pediram a saída do capitão da equipa. Com Gerrard no banco, na segunda, a equipa tinha vencido o Swansea por 4 a 1. Talvez tenha sido demais para o capitão.
Depois de 17 anos no clube, aos 34 anos de idade, sendo tão importante para a equipa na temporada passada e com capacidade de ainda ajudar muito, Gerrard talvez tenha sentido que será triste demais, para ele e para o clube, se essa situação continuar e se agravar. Sentir-se menos importante, menos útil e ver a sua presença na equipa contestada como ele passou a ser talvez seja demais. É quase como se ele e o Liverpool estivessem olhando um para o outro e pensando que é melhor se separar antes que comecem a se magoar mutuamente.
Talvez seja um problema que Brendan Rodgers não soube lidar tão bem, mas não dá para dizer que ele tenha maltratado Gerrard. Colocou o jogador numa função mais ofensiva em determinado momento da campanha na Champions League, por exemplo, quando as coisas não iam bem. Talvez não houvesse o que fazer. Gerrard ainda tem desempenho acima da média em alguns jogos, mas abaixo da média em outros. Da sua média, que é muito alta. E isso torna a cobrança muito grande para alguém que é um ídolo, uma bandeira.
Gerrard será para sempre uma lenda de Anfield. Terá enormes faixas em seu nome no estádio, não importa quanto tempo passe. Completará 35 anos em maio e certamente tem físico e especialmente futebol para continuar no futebol. Talvez continuar no Liverpool seja difícil demais para ele. Ir para os Estados Unidos, jogar a MLS, talvez seja uma forma de continuar jogando sem concorrer com o Liverpool, e onde poderá construir outra história. Mais curta e certamente menos marcante que aquela que tem com os Reds. Mas nos dará a chance de continuar vendo um dos jogadores mais marcantes da sua geração. Um centro-campista completo, capaz de ser um médio ofensivo ou um “trinco” à frente dos centrais. Um ídolo que certamente receberá tantas homenagens quantas forem possíveis daqui até ao fim da temporada. Merecidamente.
Alguns podem lembrar que Ryan Giggs jogou até os 41 anos e Frank Lampard tem causado um impacto extremamente positivo no Manchester City aos 35 anos. Por que não Gerrard continuar? Gerrard é diferente desses dois. Giggs, no Manchester United, e Lampard, agora no Manchester City, tornaram-se coadjuvantes silenciosos. Entram, fazem o seu papel e continuam sendo admirados. Gerrard é diferente. É um líder. Um jogador que sempre se caracterizou por ser completo, defender e atacar com vitalidade, pelos chutes fortes de fora da área, as comemorações enlouquecidas balançando os braços, os carrinhos cheios de vontade no meio-campo, as corridas até a área para finalizar.
Gerrard não é um jogador para ser coadjuvante de luxo. Não parece ter o perfil de um grande coadjuvante. Foi protagonista na temporada passada e não ser um herói, capaz de jogadas fantásticas e liderar a equipa rumo ao título, parece não caber no jogador que é Gerrard. Se Lampard e Giggs se consagram como jogadores de classe nos seus finais de carreira, Gerrard é o jogador da técnica, sim, mas também da força, da vitalidade, do empenho, dos gritos, da vibração. E se for para não ser isso, melhor abrir espaço para quem vier. Jordan Henderson, atualmente o vice-capitão, deve assumir a braçadeira de Gerrard na próxima temporada. É elogiado como um jogador que tem perfil de liderança e pode exercer o papel também na seleção inglesa, não apenas em Anfield. Gerrard estará observando e, certamente, dará palavras de incentivo ao jogador. E seguirá na memória, na história, nas paredes de Anfield. Porque lendas são eternas.

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