segunda-feira, 4 de maio de 2015

Como Mourinho fez do Chelsea mais uma vez campeão inglês

Faltavam três pontos. O Chelsea chegou ao domingo com o título do Campeonato Inglês quase garantido e precisando vencer um adversário fraco para dar a volta olímpica. O grande craque da equipa foi Eden Hazard, uma aposta do clube há algumas temporadas, que parece ter atingido o nível que se esperava dele. Também tem a ver com Fàbregas, grande jogador do meio-campo da equipa azul. A vitória por 1 a 0 selou a conquista dos Blues, com golo de Hazard, o que é simbólico. Uma conquista que teve em José Mourinho o mentor de uma equipa pragmática, que teve em John Terry mais do que um líder de balneário, um “senador”, como chegou a ser chamado. O título do Chelsea tem muito de Hazard e Fàbregas, mas também de John Terry. E isso tem a ver com uma aposta de Mourinho.
Antes do início da temporada era fácil apontar para o Chelsea como um dos favoritos ao título do Campeonato Inglês. O clube fez um dos melhores mercados da temporada, trazendo jogadores importantes para o seu plantel, além de ter conseguido arrecadar muito com as suas vendas. E um ponto fundamental para as contratações foi a venda de David Luiz. Dá para dizer que a saída do brasileiro foi um ponto-chave da campanha que levou o Chelsea, porque foi com a saída dele por € 49,50 milhões que permitiu que Mourinho armasse um Chelsea ainda mais forte.
O brasileiro não tinha a confiança de José Mourinho e já vinha frequentando o banco de suplentes ou jogando como médio defensivo. John Terry, que teve problemas de lesão, era o titular sempre que possível. Gary Cahill ganhou o espaço do brasileiro ao lado do capitão, mesmo sendo muito menos técnico que David Luiz. Na Inglaterra, a crítica ao central brasileiro era que ele falhava no que um central não pode falhar, não dava a segurança que a equipa precisa. Não dá para ser central e falhar na última linha, ou errar a saída de bola por displicência. Por isso Mourinho abriu mão dele. E por uma quantia tão alta que permitiu trazer alguns jogadores que foram fundamentais.
Outro que Mourinho abriu mão por uma pequena fortuna foi o atacante Romelu Lukaku, vendido ao Everton por € 35,36 milhões. O desempenho do belga no Everton na temporada parece ter dado razão a Mourinho que, embora bom jogador, a proposta era boa demais para ser recusada (uma lição que Football Manager nos ensina sempre). O clube ainda vendeu outros jogadores como André Schürrle (em janeiro, € 32 milhões), Ryan Bertrand (€ 13,34 milhões), Demba Ba (€ 6 milhões) e Fernando Torres (€ 3 milhões). É verdade que Juan Cuadrado (comprado por € 31 milhões em janeiro) e Filipe Luís (trazido por € 20 milhões no começo da temporada) não renderam o esperado e que Loic Remy (€ 13,20 milhões) foi só um suplente. Mesmo assim, o mercado do Chelsea acabou sendo fundamental para tornar a equipa muito mais forte.

O fator Fàbregas

A contratação mais importante que Mourinho fez com o dinheiro que recebeu por David Luiz foi Cesc Fàbregas. Trazido por € 33 milhões do Barcelona, chegou ao Chelsea sabendo da desconfiança que receberia pela sua ligação com o Arsenal. Mourinho, porém, o conhecia bem. Sabia da sua capacidade nos tempos de confrontos quando o português, técnico do Real Madrid, enfrentava o jogador do Barcelona. O conhecia até antes disso, quando, na sua primeira passagem como técnico do Chelsea, o enfrentou ainda como jogador do Arsenal. A chegada de Fàbregas ao Chelsea mostrou como o Barcelona o aproveitava mal, muitas vezes o colocando como atacante. O seu papel, como médio centro, tornou-o um dos melhores jogadores da Premier League. Não por acaso, fez 17 assistências no Campeonato Inglês e é o líder, disparado, nesse quesito.
Vieram ainda outras contratações que foram importantes. Diego Costa chegou por € 38 milhões para preencher a posição mais carente do plantel. Fez 19 golos na Premier League que foram fundamentais para o bom início da equipa na liga, que foi fundamental para essa vantagem tão grande. As lesões o atrapalharam, especialmente na segunda metade da temporada, e ficou devendo na Champions League, onde sequer conseguiu marcar um golo. Ainda assim, deve ser peça-chave para o clube na próxima temporada, porque os substitutos não estiveram à altura. Didier Drogba é um ídolo, mas não tem mais o alto nível que teve em outros momentos. Loic Remy é um bom jogador, mas também não está no mesmo nível do hispano-brasileiro.

O fator Terry
É preciso ressaltar a temporada que John Terry fez pelo Chelsea. Aos 34 anos, o central passou a temporada passada com muitas lesões e as dúvidas que talvez ele estivesse em decadência, natural da idade. David Luiz e Cahill seria a dupla de centrais do futuro do Chelsea. Não para Mourinho. Ele foi sempre o titular quando esteve saudável e, nesta temporada, sem David Luiz, mostrou que é um central de alto nível. Foi muito bem na defesa, seguro, fazendo Mourinho confiar quase cegamente no poder defensivo dos Blues em alguns momentos na temporada.
Terry fez uma dupla com Gary Cahill que Vanderlei Luxemburgo chamaria de “central-central”. Terry passa longe de um jogador apenas vigoroso, tanto que atua hoje sem a mesma explosão, mas ainda com um bom posicionamento e experiência. Tanto que comentaristas ingleses passaram a pedir o central do Chelsea na seleção, o que ele descartou imediatamente – a confusão com a FA depois das polémicas que o capitão dos Blues se envolveu parece ser difícil de superar. De qualquer forma, o Chelsea ganhou um grande central, além do líder que nunca deixou a equipa.

O craque: Hazard
Quando foi contratado em 2012, Hazard vinha com a expectativa de ser um dos melhores jogadores do mundo. O seu desempenho foi bom desde a primeira temporada, mas se sabia que dava para esperar mais. Nesta temporada, parece que Hazard atingiu o poder de decisão que se esperava que ele tivesse no momento da sua contratação. Curiosamente, na temporada que assumiu o seu número de camisola preferido, o 10, que estava com Juan Mata.
Segundo o site WhoScored, que faz estatísticas, Hazard é o jogador com pontuação média mais alta. Não por acaso, foi escolhido como o jogador da temporada na Inglaterra. Um prémio justo para o belga, que foi muito decisivo em muitos jogos importantes do Chelsea. Fez 14 golos, um número alto para um médio, além de ter feito outras oito assistências. Numa equipa com tantas boas opções para o meio campo, ele se destacou como a principal. Tem o drible como principal característica e atua em velocidade, do jeito que o Chelsea precisa tantas vezes.

E o futuro?
Os méritos do Chelsea são inquestionáveis na temporada. O desempenho da equipa no Campeonato Inglês não deu chance para qualquer equipa adversária, mesmo o Manchester City que ganhou dois dos três últimos títulos na Inglaterra. O Chelsea jogou mais futebol, mesmo que tenha deixado uma sensação que poderia ter jogado ainda mais. Mourinho por vezes foi pragmático, porque sabia que estava em vantagem e podia jogar assim. Não titubeou em jogos grandes, o que mostra a força do Chelsea.
Os Blues, a três jornadas do final, têm 69 golos em 35 jogos, média de quase dois golos por jogo, o que pode não parecer muito, mas é o segundo melhor ataque, atrás do Manchester City. A defesa, porém, fez diferença. Foram só 27 golos sofridos, média de 0,77 golo sofrido por partida. O saldo de 42 golos positivos é uma demonstração da força da equipa de Mourinho.
O grande defeito do Chelsea é ter uma postura muito defensiva em jogos que claramente é superior. O jogo do título deste domingo com o Crystal Palace foi novamente assim. Vencendo por 1 a 0, resultado que lhe interessava, o Chelsea se posicionou defensivamente e sofreu pressão da equipa de Alan Pardew até ao apito final. Essa postura custou a eliminação na Champions League nesta temporada contra o Paris Saint-Germain, quando a equipa, com um a mais em campo a maior parte do tempo, acabou eliminada em casa no prolongamento. Para a liga, esse tipo de jogo costuma ser eficiente, porque a equipa perde pouco. Na Champions, em confrontos diretos, pode custar caro, ainda mais porque os adversários são muito fortes.
É verdade que Mourinho perdeu um jogador-chave na maior parte da segunda metade da temporada, quando perdeu Diego Costa. Mas mesmo assim, a equipa precisava ter uma opção melhor para jogar mais. A sensação do Chelsea é que embora a equipa vença muito e perca pouco, sempre deixa o gosto de “podia ser melhor”. Com a equipa que tem, o Chelsea pode sim jogar melhor. Mas tem outro fato nisso: Mourinho não ganhou título na temporada passada e, nesta, precisava de taças.
Venceu a Taça da Liga, o que amenizou um pouco a pressão, mas o título inglês era fundamental para curar a ferida da Champions League. Conseguiu, com muita autoridade. Na próxima temporada, Mourinho sabe que precisará ter um desempenho melhor na Champions League. Não quer dizer ser campeão, porque ganhar a Champions é uma missão muito dura entre equipas muito fortes, que um jogo pode mudar tudo. Mas o desempenho tinha que ser melhor. O Chelsea caiu diante do PSG dando a impressão que poderia ter eliminado os franceses. É isso que precisará mudar. E nem precisa de muitos ajustes em termos de plantel. Será um ajuste fino para voltar a ter o Chelsea entre os melhores e tentar alcançar o primeiro escalão de clubes europeus, que neste momento parece ter apenas Barcelona, Bayern de Munique e Real Madrid.

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