quarta-feira, 30 de março de 2016

A tática no futebol

Embora não seja uma guerra, o futebol é o confronto entre duas nações representadas pelos seus “guerreiros” no campo. Por isso, mesmo sendo um desporto, ele adapta o conceito de tática utilizado nas guerras: tática é a arte de dispor e ordenar tropas para combate.
Restringindo-se agora apenas ao futebol, dá para acrescentar outro conceito. Como as equipas são compostas por pelo menos três setores – defesa, meio-campo e ataque – é preciso aplicar um sistema, responsável pela coordenação das partes entre si, transformando o que poderia ser um emaranhado de 11 jogadores numa estrutura organizada.
Para isso, a partir da década de 1930, o futebol passou a evoluir com a criação de diversos sistemas táticos, responsáveis pela organização das equipas.

TÁTICA NO FUTEBOL
É preciso diferenciar três aspectos que contribuem para a execução do sistema tático adotado pela equipa.
Existem três tipos de táticas, e todas elas devem ser levadas em consideração pelo treinador de futebol.
Tática Individual: é a função desempenhada pelo jogador. Dentro da proposta coletiva, o técnico precisa estabelecer de maneira clara e eficiente o papel de cada um. Envolve as orientações sobre a movimentação do jogador, a postura ofensiva e a postura defensiva.
Tática de grupo: é o planeamento dirigido a um setor específico. Envolve as atribuições de cobertura, apoio à marcação, linhas de passe e triangulações, ocupação e abertura de espaços.
Exemplo: tática de grupo para defesa e ataque no lado direito do campo, envolvendo o lateral-direito, o médio mais recuado e o médio organizador.
Conforme as suas táticas individuais, todos precisam de saber como auxiliar uns aos outros na marcação, e como se movimentar organizadamente nas investidas de ataque.
Tática coletiva: é o planeamento adotado para toda a equipa, aquele “dos números”, responsável por interligar e coordenar as táticas de grupo.
Mas o sucesso da tática coletiva depende da maneira como o treinador define as funções de cada jogador (táticas individuais) e a movimentação ordenada de cada setor (táticas de grupo).
Apenas definir o sistema tático, sem o cuidado de organizar as partes e as individualidades, não é suficiente.

ESTRATÉGIA
A estratégia não pode ser confundida com o sistema tático. Ela na verdade é a maneira como vai se comportar a equipa em campo.
Independentemente do sistema tático, a equipa pode adotar uma postura mais ofensiva ou mais defensiva.
Com o mesmo sistema tático, uma equipa pode modificar a estratégia dentro de um jogo – invertendo jogadores de posição, por exemplo, ou alterando o sistema de marcação.
Mais ligada às táticas individual e de grupo, a estratégia leva em consideração a movimentação dos jogadores na marcação (cobertura, antecipação) e na articulação (antecipação, criação de espaços, formação de linhas de passe), e a característica dos atletas.
Equipas que se enfrentam com o mesmo sistema tático podem ter estratégias diferentes.
Por isso, é importante que os jogadores tenham capacidade para compreender as atribuições de cada função dentro da tática coletiva, assimilando mais de uma tática individual.
Isso oferece a oportunidade para que o treinador altere a estratégia com a bola rolando, sem a necessidade de fazer substituições, apenas modificando a função dos jogadores.

ZONAS DE MARCAÇÃO
A definição do sistema de marcação é fundamental dentro da estratégia de cada equipa. Mas também é preciso levar em consideração o preparo físico e a movimentação do adversário na definição do sistema de marcação.
De nada adiantaria, por exemplo, definir uma marcação-pressão se a equipa não tem condições físicas de aguentar essa exigência por muito tempo.
Zona: é a marcação utilizada principalmente nos clubes da Inglaterra. Delimitada a zona de atuação de cada jogador (tática individual), ele vai dar combate nos adversários que por ali transitarem.
Exige muita visão periférica para antecipar as jogadas e fazer a abordagem correta no momento em que for exigido.
Pressão: adiantam-se todos os setores (tática de grupo) e a marcação é feita no campo do adversário.
Os atacantes entram em combate direto com os centrais para induzir o adversário à ligação direta.
Meia-pressão: a defesa e o meio-campo adiantam-se, mas a pressão é exercida apenas pelos atacantes, na saída de bola dos adversários.
Individual: um jogador marca apenas um adversário, acompanhando o atleta em qualquer parte do campo. Utilizada para anular algum jogador diferenciado de criação ou finalização.
Mista: é diferenciada por setor (tática de grupo). Pode ser adotada pressão no ataque, a zona no meio e a individual na defesa, por exemplo.

SISTEMAS TÁTICOS
A evolução das regras e da preparação física levou os treinadores a criar novos sistemas de acordo com a exigência de cada época.
No início, o futebol se resumia a um grande número de atletas no ataque.
A estratégia era a ligação direta. Mas, com a regra do fora de jogo, as equipas precisaram se organizar.
O enfoque passou do ataque para o meio campo, onde a bola precisaria permanecer por maior tempo em busca da articulação.
Cada sistema, entretanto, surge como oposição ao antecessor, exatamente pela necessidade de vencê-lo.

A FIFA reconhece apenas seis sistemas táticos. Os demais são considerados variações destes já existentes:

W.M – Arsenal - 1925

É o primeiro sistema tático identificado na história do futebol. Tem três centrais em linha, dois médios defensivos, dois médios de ligação e três atacantes. Fez tanto sucesso que todos passaram a usá-lo, “espelhando” os confrontos. Quem quisesse vencer teria de aumentar o número de atacantes.
CURIOSIDADE: Dele surgiu o termo “defesa central”, utilizado até hoje.
4-2-4 (utilizado pelo Brasil nos Mundiais de 58 e 62)
Com o objetivo de criar dificuldades para o W.M, surgiu o 4-2-4. Com relação ao antecessor, um médio defensivo tornou-se no 4º central, e um médio passou a ser o 4º atacante. E no confronto com o W.M, ficaram 4 centrais para marcar 3 atacantes, e 4 atacantes contra três centrais.
CURIOSIDADE: Dele surgiu o termo “quarto central”, utilizado até hoje.

4-3-3 (utilizado pelo Brasil no Mundial de 1970)

A simplificação do 4-2-4 reduziu a permanência da bola no meio-campo, resumindo-se o jogo à ligação direta. Aos poucos, entretanto, a atenção dos confrontos passou do ataque e da defesa para o meio-campo. E assim, o 4-3-3 é o primeiro sistema que procura aumentar a posse de bola no setor de construção. Pode variar de um médio defensivo e dois médios centro para dois médios defensivos e um médio centro, modificando-se ainda mais com as estratégias de ataque ou defesa (laterais ofensivos ou defensivos, sistema de marcação e movimentação dos atacantes). Hoje, por exemplo, o Barcelona utiliza um 4-3-3 com laterais quase fixos à defesa, em linha, e atacantes de movimentação que jogam em diagonal, ao contrário dos antigos extremos, que corriam para o fundo e faziam cruzamentos. É o mesmo sistema, mas com uma estratégia diferente.

4-4-2 (utilizado pelo Brasil no Mundial de 1994)

Cada vez mais as atenções voltaram-se para o meio-campo. E então um dos atacantes passou para o setor de criação, eliminando a existência dos extremos. É um dos sistemas táticos que mais permite variações, dependendo da tática individual dos homens de meio campo e de ataque: variam o número de médios defensivos e organizadores, o posicionamento de todos, e a característica dos atacantes. No meio campo, o desenho pode ser o quadrado, o losango, a linha, variando de um até quatro volantes. No ataque, também podem ser dois avançados-centro fixos, ou dois atacantes de movimentação, ou então uma combinação entre o avançado-centro e o atacante.
CURIOSIDADE: Dele nasceu o termo “quarto homem de meio-campo”.

3-5-2 (nascido na Itália)

Este é o esquema que mais sofre distorções. Nasceu na Itália com o conceito de líbero. O líbero (em italiano, “livre”), está originalmente localizado na defesa, mas é um jogador “livre” para se posicionar conforme as exigências da partida. Dentro do mesmo jogo pode estar atrás da linha de centrais – como homem da sobra, à frente deles – como médio defensivo, investir pelo meio ou pelas laterais, e até mesmo aparecer na área para concluir. Baresi é o maior exemplo de líbero bem sucedido pela inteligência com a qual se posicionava em campo, sempre atento à hora de modificar a própria posição.
Compreender a função do líbero é fundamental para o sucesso do 3-5-2, porque apenas com um jogador capaz de assimilar essa tática individual de extrema alternância de funções, com posicionamento, noção de cobertura e movimentação constante, pode exercê-la. Do contrário, o líbero seguirá sendo apenas um rebatedor atrás da linha de centrais.
Outro conceito trazido pelo 3-5-2 é o de alas, abolindo os laterais. Os alas têm na origem a função de não apenas jogar pelos lados, mas também ocupar os espaços de meio-campo na articulação das jogadas.

3-4-3 (Dinamarca 2002/Ájax 1995)

É um sistema quase misto, que se utiliza dos conceitos de defesa do 3-5-2 (líbero, cobertura e posicionamento) de meio-campo do 4-4-2 (diversas possibilidades de desenhos e estratégias) e de ataque do 4-3-3 (retorno do 3º atacante).
Os demais sistemas são considerados pela FIFA variações destes seis reconhecidos. Portanto, o 3-6-1 pode ser visto como uma variação do 3-5-2, o 4-5-1 como uma alternativa ao 4-4-2 e assim por diante.



O FUTURO
O futebol está cada vez mais dependente da força física e da velocidade dos jogadores. E isso vai se refletir nas opções relativas ao sistema tático – incluindo as táticas coletiva, de grupo e individual, à estratégia e ao sistema de marcação.
Dentro das estratégias, haverá cada vez mais variação de posicionamento tático dentro da mesma partida.
E por isso o jogador precisará ser cada vez mais inteligente e de raciocínio rápido.
Essas variações táticas vão exigir jogadores capazes de entender a necessidade da partida, com inteligência para cumprir mais de uma função tática individual e de assimilar diversos sistemas e estratégias, tanto de grupo como coletivas.
E assim esse jogador também terá autonomia para tomar decisões em campo.


O TREINADOR
Muitos defendem que o poder de decisão está com os jogadores, que é a qualidade deles quem determina os vitoriosos, mas eu discordo.
Os méritos e as críticas devem sim serem mais direcionados ao treinador.
Por muitas vezes, um jogador apresenta-se mal porque não tem uma tática individual clara, ou pior: foi escalado para cumprir uma função equivocada.
É o treinador quem define todas as táticas individuais, dos 10 jogadores de linha – e até do guarda-redes (reposição de bola, posicionamento como “homem da sobra”...), todas as táticas de grupo e encaixa essas definições na tática coletiva e na estratégia.
É o treinador quem faz a equipa jogar, e quando o técnico é limitado, não tem inteligência para definir táticas individuais coerentes com as táticas de grupo, integradas à tática coletiva e de acordo com a melhor estratégia, a equipa torna-se um emaranhado de atletas chocando-se dentro de campo como baratas desgovernadas.

"SEMPRE NO DESPORTO COLETIVO VENCERÁ A COLETIVIDADE QUE ESTIVER MELHOR ORGANIZADA"

"UM GÉNIO DENTRO DE UMA EQUIPA EMBARALHADA CAI DE PRODUÇÃO, ENQUANTO UM JOGADOR LIMITADO FAZENDO PARTE DE UMA ENGRENAGEM INTELIGENTE TORNA-SE ÚTIL"



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