sábado, 18 de julho de 2015

Aimar mostrou a sua grandeza na despedida: “Não queria jogar caminhando”

Pablo Aimar surpreendeu a todos nesta semana ao anunciar a sua retirada. Aos 35 anos, a expectativa era que ele terminasse a carreira de forma apoteótica no River Plate, o clube mais marcante da sua carreira e que o formou como jogador. Os problemas físicos o atormentavam nos últimos anos, mas a esperança é que ele pudesse ajudar o River Plate na reta final da Taça Libertadores e no Campeonato Argentino. Sonho que foi pelos ares. Sua retirada foi anunciada na noite de terça para quarta, justamente no dia em que o River enfrentou o Guaraní. E os motivos que o levaram a tomar esta decisão mostram o tamanho de um ídolo como Pablito para o seu povo.
“Não há nada, chega um dia que termina. Eu me cansei de tomar antiinflamatórios, comprimidos, infiltrações e mancar no treino”, disse Aimar num áudio enviado a um amigo, enquanto dirigia, depois de já ter anunciado a retirada aos jogadores do River e quando a notícia que ele pendurou as chuteiras já estava nos veículos de imprensa de várias partes do mundo. O áudio enviado a um amigo acabou se tornando público e mostra a decepção dele em não ter sido inscrito na Taça Libertadores. Suas condições físicas o complicaram.
“E, depois, dos cinco lugares que havia para a Copa [Libertadores], de seis jogadores fui eu que fiquei fora… Tudo bem, eu entendo, estou mancando, mas é um claro sinal que se de seis entram cinco, dos quais um está lesionado e que só vai poder jogar numa hipotética final, que é [Nicolás] Bartolo, é um claro sinal que não não sou mais o tema”, disse ainda Aimar no áudio.
Para a semifinal, o River Plate poderia inscrever cinco jogadores e o técnico Marcelo Gallardo deixou o ídolo de fora. Ele contava ao amigo que estava voltando à sua cidade natal, Río Cuarto, em Córdoba, e que entraria de férias. “Estou voltando para a minha casa, me preparando para ir a Rio Cuarto e algum lado de férias, não vou me deprimir muito”, disse ainda na mensagem o agora ex-jogador não só do River Plate, mas do Valencia, do Benfica e da seleção argentina.
Aimar se recuperava de uma cirurgia no joelho direito, feita no dia 12 de fevereiro de 2015. Há quase quatro meses inativo, voltou a jogar por pouco mais de 15 minutos no dia 31 de maio, na vitória do River Plate sobre o Rosario Central por 2 a 0 na 14ª ronda do Campeonato Argentino. Jogou a sua última partida pelo River na vitória por 2 a 0 sobre o Liniers de Bahía Blanca, nas oitavas de final da Copa Argentina. Nem ele mesmo sabia que era uma despedida.

A carta aos companheiros
Sem estar inscrito na Taça Libertadores, Aimar comunicou a decisão de se aposentar aos companheiros de River no dia do jogo de ida da semifinal contra o Guaraní, em partida no Monumental de Núñez. Esta é a reprodução:
“Companheiros, antes de nada, quero agradecer a todos pelo bem que me trataram estes meses que me emocionou estar com vocês. Estive muito bem, sendo parte de um grupo de pessoas fantásticas. Tentei de tudo para estar fisicamente à altura de vocês. Não consegui, e me comunicariam que estarei fora da lista da Copa [Libertadores], e eu entendo, não quero ocupar um lugar que seguramente é para outros rapazes. Por isso decidi deixar de jogar profissionalmente. Vou continuar torcendo de fora, espero que consigam tudo que merecem. Um dia destes passo para cumprimentá-los e agradecer pessoalmente pela forma como me trataram. Grandes abraços a todos!”.
Com a notícia da sua retirada espalhada pelo mundo, Aimar apareceu para explicar os seus motivos. Ele não esconde a tristeza e a decepção pela situação, mas parece entender e não quer culpar ninguém. Diz, apenas, que não gostaria de jogar pela metade. Seus problemas físicos o impedem de jogar futebol como ele quer. Este é um gesto de respeito ao River e aos adeptos do clube.
“Com Gallardo fui totalmente direto e sincero. Ele não me colocou na lista da Taça Libertadores porque não posso jogar no River e ser regular. Não gosto de fazer as coisas pela metade e meu futuro está com a minha família”, afirmou o jogador ao programa Pelota de Trapo, na Argentina.
“Eu não queria favores. Não há chance de continuar porque seria fazer de forma limitada. Não quero jogar de forma limitada em lugar nenhum, nem no Estudiantes de Río Cuarto [clube da sua cidade natal, pelo qual atuou quando criança]. Não tenho nenhum outro problema, sempre fui profissional e gosto de jogar futebol bem, e não fazer isso caminhando”, declarou ainda o agora ex-jogador. Não jogar futebol caminhando. Quantos jogadores que não enfrentaram tantos problemas físicos quanto Aimar parecem não se sentir incomodados em jogar andando?
“Agradeço àqueles que gostaram de me ver jogar futebol. Quem me conhece sabe que não tomo como algo ruim. Entendo o sentimento de duelo, mas para o futebol eu sou grande e para a vida eu sou jovem. Há muita vida fora de um campo e eu gostaria de viver. Para mim, não é algo ruim, é algo que eu tenho que passar”, contou ainda Aimar.
Aimar foi um grande do futebol argentino e mundial. Esteve entre os melhores da sua posição, foi destaque de um River Plate muito forte, campeão nacional e da Libertadores, de um Valencia que conquistou o título espanhol duas vezes, além da Taça da UEFA, de um Benfica campeão português.
Mais do que títulos, Aimar deixa saudades pelo futebol que jogou. Um médio de um estilo que a Argentina consagrou. Um jogador que deixa o futebol com uma declaração de caráter. Se o físico não permite mais que ele mantenha a vida de jogador profissional, ele ficará apenas como lenda. A quem admira o futebol, só resta agradecer e desejar que ele tenha uma vida tão feliz fora de campo quanto conseguiu ser feliz dentro dele.

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